Uma matéria publicada a poucos dias no Jornal Correio 24 horas conta a lenda da serpente da Ilha do Miradouro em Xique-Xique-BA! A lenda da serpente que protege igreja de ilha baiana de catástrofes naturais. Narrativa é tão forte que até hoje moradores acreditam na existência da cobra.
Mariá era uma jovem de beleza que saltava os olhos de qualquer pessoa, mas sobretudo daqueles forasteiros, desbravadores do leito do Rio Francisco e dos sertões sem fim daquela velha e desconhecida Bahia do século 17. A moça, que vivia com a família às margens do Velho Chico, na pequena Ilha do Miradouro, em Bom Jesus do Xique-xique, hoje cidade de Xique-xique, já desabrochava para o tempo como uma delicada flor. Um tropeiro que por ali passava arriou-se para a ternura da jovem, que correspondeu ao gracejo do cavalheiro das trilhas perdidas. Enamoraram-se em segredo, já que o amor era mais que proibido. A família de Mariá, sendo seu pai um importante coronel da região, desejava homem de maiores honrarias a ela, mas as chamas do amor clandestino queimava o peito do casal e os encontros em silêncio partilhado a dois eram inevitáveis.
“Os dois se encontravam às escondidas, atrás das árvores de jatobá, que eram frondosas e ficavam afastadas. As lavadeiras, que costumavam lavar roupas à beira do rio, começaram a desconfiar. ‘A filha do coronel está de namoro com aquele tropeiro. Ela que se cuide’, diziam elas”, conta Giselda Meira, especialista em linguística e literatura,e atual coordenadora municipal de cultura da cidade de Xique-xique, uma das guardiãs dessa história. Os dias se passaram e a semente de um amor proibido começou germinar no ventre da jovem, que decidiu contar ao tropeiro sobre a consequência dos seus encontros à margem do mundo. “Ao sentir sua barriga crescer, ela se deu conta de que estava grávida. Quando contou ao tropeiro, ele fugiu, temendo a ira do pai de Mariá, conhecido como um homem valente e rígido. O tropeiro nunca mais apareceu, deixando Mariá sozinha e desolada”, continua Giselda.
Temendo o desgosto e a cólera do pai, a jovem passou a ocultar os sinais da gravidez com roupas apertadas, mas as lavadeiras, as únicas testemunhas do amor que floresceu em segredo, já estavam mais que desconfiadas. “Quando chegou a hora do parto, ela foi para um lugar afastado, onde as águas do rio eram mais correntes. Lá, desesperada, Mariá deu à luz e, tomada pelo medo e pela tristeza, jogou o bebê no rio”. Mariá retornou para casa profundamente abatida. Com o tempo, as lavadeiras começaram a perceber algo peculiar: uma pequena cobra, com traços que lembravam o rosto de uma menina, surgia diariamente nas tábuas onde elas lavavam os tecidos. Curiosas e inquietas, decidiram relatar o ocorrido ao padre, que estava em missão na região, mencionando a presença constante da enigmática criatura no Velho Chico. O religioso decidiu realizar uma missa para trazer a verdade à tona.
“No dia da celebração, com a igreja lotada, o padre avisou que a cobra entraria para procurar sua mãe. A pequena serpente foi de mulher em mulher, enquanto todas repetiam: ‘Eu não sou mãe da cobra’. Quando chegou perto de Mariá, a serpente reconheceu sua mãe pelo cheiro do leite. O padre a confrontou e a acusou de abandonar seu filho. Nesse momento, Mariá se transformou em uma grande serpente, que desapareceu em direção ao altar”, relata a coordenadora de cultura. Os dias se passaram e a semente de um amor proibido começou germinar no ventre da jovem, que decidiu contar ao tropeiro sobre a consequência dos seus encontros à margem do mundo. “Ao sentir sua barriga crescer, ela se deu conta de que estava grávida. Quando contou ao tropeiro, ele fugiu, temendo a ira do pai de Mariá, conhecido como um homem valente e rígido. O tropeiro nunca mais apareceu, deixando Mariá sozinha e desolada”, continua Giselda.
Segundo a crença dos moradores mais antigos da ilha, é nesse altar onde a grande cobra Mariá vive até hoje, protegendo a estrutura da igreja, erguida no final do século 17, por volta de 1690, para abrigar a imagem de Nossa Senhora Santana. “A igreja foi tombada entre 2013 e 2015, e durante as obras de restauração, os trabalhadores ficaram impressionados com a robustez das paredes. Com dois altares laterais e um altar-mor, é embaixo deste último que, segundo a lenda, a serpente está escondida. Os devotos mantêm a igreja com muita dedicação. Seu interior, com um sino antigo, um púlpito de madeira de cedro e outros detalhes históricos, emana uma sensação mágica para quem a visita. Durante a festa da padroeira, no dia 26 de julho, os fiéis relatam milagres e conquistas obtidas através da fé”, descreve Giselda.
Essa narrativa é tão forte que até hoje os moradores acreditam na existência da serpente e contam a história com respeito. Muitos dizem ouvir sons vindos do altar, e a zeladora da igreja frequentemente convida pessoas para rezar e acalmar o ambiente. A coordenadora municipal de cultura diz que a igreja é um patrimônio histórico e cultural, com grande valor material devido à sua arquitetura antiga e também imaterial, por guardar a lenda da serpente e a fé da comunidade. “Infelizmente, os padres mais recentes não reconhecem o valor dessa lenda, mas os moradores, que cresceram ouvindo essas histórias, têm muito respeito por ela. Curiosamente, o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC) deixou materiais importantes guardados na igreja, e não houve nenhum roubo, pois a comunidade acredita que o local é protegido por duas guardiãs: Senhora Santana e a serpente”.
Acredita-se também que a serpente, assim como a santa, são responsáveis por blindar a igreja de catástrofes naturais, como as enchentes sofridas pelos xiquexiquenses em 1949, ano em que as águas do Rio São Francisco em fúria invadiu a cidade, destruindo casas, desabrigando e ilhando centenas de pessoas. Assim como outra, ainda mais forte, 30 anos depois. “A igreja e a lenda da serpente são um reflexo da riqueza histórica e cultural da região, perpetuando uma tradição que mistura fé, história e imaginação popular. A igreja, para nós, é um patrimônio histórico e cultural, com grande valor material devido à sua arquitetura antiga e também imaterial, por guardar a lenda da serpente e a fé da comunidade.”, finaliza Giselda.
Giselda Meira, especialista em linguística e literatura,e atual coordenadora municipal de cultura da cidade de Xique-xique/Crédito: Reprodução.
FONTE: CORREIO 24 HORAS.
Nenhum comentário:
Postar um comentário